Plataformas usadas para jogatina e interação entre amigos, como Discord, Roblox, Steam e Twitch, passaram a concentrar investigações de órgãos de segurança e especialistas em proteção digital. O ambiente, antes visto apenas como espaço de entretenimento, vem sendo apontado como via de disseminação de discurso de ódio e de recrutamento de jovens por grupos extremistas.
Segundo matéria do Axios citada pelo Olhar Digital, esses serviços reúnem milhões de usuários — muitos deles adolescentes — em salas privadas, onde a atuação de moderadores e pesquisadores é limitada. O resultado é um terreno fértil para mensagens radicais que se espalham sem grande visibilidade pública.
Extremistas buscam jovens vulneráveis
“Extremistas e predadores vão a esses espaços de jogos para encontrar jovens altamente engajados e suscetíveis, muitos dos quais anseiam por conexão”, afirmou Mariana Olaizola Rosenblat, consultora de políticas em tecnologia e direito na NYU Stern, ao Axios. Ela ressalta que o acesso restrito dificulta o monitoramento: “A maioria dos pesquisadores é basicamente cega a tudo isso”.
Ainda de acordo com Rosenblat, radicais costumam disfarçar mensagens ideológicas usando a própria linguagem dos jogos, o que confunde usuários e reduz a percepção de risco. Embora as empresas tenham acesso aos conteúdos, os investimentos em moderação e proteção são considerados insuficientes.
Casos que acenderam o alerta
Discord
— Suspeito do assassinato de Charlie Kirk teria confessado o crime em um bate-papo.
— Plataforma foi usada para organizar o protesto Unite the Right em Charlottesville (2017).
— Atirador de Buffalo planejou o ataque de 2022 no serviço.
— Investigação de 2018 revelou centenas de casos de pornografia de vingança.
Roblox
— Voltada ao público infantil, enfrenta críticas por conteúdo sexual, predatório e extremista.
— Responde a processos nos EUA por falhas na proteção de menores.
— Menina de 13 anos foi sequestrada e traficada após contato na rede.
— Empresa declara usar IA e moderação humana 24 horas por dia.
Twitch
— Transmitiu ao vivo o ataque de Buffalo em 2022.
— Conteúdo foi removido rapidamente e a empresa colaborou com as autoridades.
Imagem: rafastockbr
Steam
— Pesquisadores identificaram, em 2021, comunidades ligadas a ideologias de extrema-direita e neonazismo.
Reação de governos
Nos Estados Unidos, o assassinato de Charlie Kirk levou a Câmara de Supervisão a convocar executivos de diversas plataformas para depor no Congresso. No Brasil, o governo federal discute projetos de lei para regulamentar redes sociais e big techs, além de propostas específicas para proteger crianças e adolescentes. Medidas administrativas e judiciais também são utilizadas para combater discurso de ódio, exploração infantil e desinformação.
Enquanto usuários continuam buscando nos jogos um espaço de diversão, especialistas alertam que a falta de transparência e de moderação eficaz permite a permanência de conteúdos prejudiciais e estratégias de recrutamento em comunidades pouco visíveis ao público.
Com informações de Olhar Digital