Estudo revela que “lobo” das Ilhas Malvinas era, na verdade, raposa sul-americana domesticada

O animal conhecido como lobo-das-Malvinas (Dusicyon australis), único mamífero nativo do arquipélago, não era um lobo selvagem, mas a última população de uma raposa domesticada na América do Sul. A conclusão consta de pesquisa publicada no Biological Journal of the Linnean Society.

Segundo a equipe liderada pelo professor Samuel Turvey, do Instituto de Zoologia da ZSL, análises genéticas e arqueológicas indicam que a espécie descendia diretamente de Dusicyon avus, raposa domesticada por caçadores-coletores sul-americanos antes mesmo da domesticação dos cães. Durante muito tempo, acreditava-se que o lobo-das-Malvinas tivesse se separado de outras raposas há cerca de 16 mil anos.

Restos de D. avus foram encontrados em tumbas humanas, sugerindo convivência próxima com pessoas. Parte desses animais teria alcançado as Ilhas Malvinas e mantido o comportamento dócil, sem medo de humanos — característica que facilitou a caça pelos colonizadores europeus a partir do século XVII.

Charles Darwin foi um dos poucos a observar a espécie viva. O naturalista atribuiu a falta de temor às condições de isolamento e previu que isso levaria à extinção, o que se confirmou. O novo estudo, porém, indica que a docilidade tinha origem na domesticação prévia.

Relatos de colonos descrevem um canídeo de pelagem castanha, tamanho semelhante ao de um labrador pequeno e comportamento amigável. Assim como ocorreu com o dodô, essa falta de receio agravou o extermínio do animal.

Diante das evidências, os autores recomendam que Dusicyon avus passe a ser oficialmente denominado Dusicyon australis, reconhecendo que se trata da mesma espécie. Para Turvey, compreender a trajetória do lobo-das-Malvinas ajuda a refinar estratégias atuais de conservação, ao demonstrar como pressões humanas podem levar rapidamente à extinção.

Com informações de Olhar Digital