Estudo aponta origem profunda para anomalia gravitacional detectada sobre o Atlântico

São Paulo, 9 de outubro de 2025 – Uma análise recente indica que um distúrbio gravitacional observado pelos satélites da missão GRACE entre 2006 e 2008 pode ter sido provocado por uma transformação mineral a mais de 2,5 mil quilômetros de profundidade, na fronteira entre o manto e o núcleo da Terra.

O que foi detectado

Os dois satélites da NASA, operados em parceria com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), registraram um sinal intenso e alongado sobre o Atlântico Oriental, próximo à costa africana. A anomalia, orientada de norte a sul e com cerca de 7 mil quilômetros de extensão, atingiu o máximo em janeiro de 2007 e desapareceu gradualmente ao longo de dois anos.

Coincidência com solavanco geomagnético

O pico do sinal gravimétrico coincidiu com um “solavanco” no campo magnético do planeta, ocorrido no mesmo mês. A simultaneidade levou os pesquisadores a descartar causas superficiais, como variações no nível do mar, umidade do solo ou correntes oceânicas, e a buscar respostas no interior do globo.

Hipótese no limite núcleo-manto

Segundo o estudo, publicado em 28 de agosto no periódico Geophysical Research Letters, o evento estaria ligado a uma transformação de fase do silicato de magnésio (MgSiO₃) – da forma perovskita para pós-perovskita – na chamada camada D, zona de transição entre o manto sólido e o núcleo líquido. Essa mudança, ainda pouco documentada, teria redistribuído massa no manto, alterando a gravidade e, indiretamente, o campo magnético.

Plumas sob a África

Modelos numéricos sugerem que o processo ocorreu em plumas ascendentes da Grande Província Africana de Baixa Velocidade de Cisalhamento (LLSVP). Duas dessas plumas, com cerca de 1.000 quilômetros de largura e temperatura levemente inferior ao entorno, poderiam ter provocado um deslocamento de até 12 centímetros no limite núcleo-manto, gerando o sinal captado pelo GRACE.

Validação dos dados

“Nossa primeira reação foi questionar se o padrão era real”, afirmou a geofísica Mioara Mandea, coautora da pesquisa. Após cruzar diferentes modelos hidrológicos, oceânicos e atmosféricos, a equipe confirmou a autenticidade da anomalia e descartou ruído estatístico.

Os autores ressaltam que o episódio reforça a interdependência entre processos das profundezas e fenômenos observados na superfície, indicando que mudanças na estrutura mineral do manto podem deixar rastros mensuráveis na gravidade e no magnetismo do planeta.

Com informações de Olhar Digital