Algoritmo do TikTok cria hábito em 35 minutos, aponta estudo

O Washington Post analisou o uso do TikTok por 1,1 mil pessoas e concluiu que o aplicativo consegue estabelecer um hábito após cerca de 260 vídeos — o equivalente a 35 minutos de rolagem contínua. O levantamento avaliou 15 milhões de vídeos assistidos ao longo de seis meses, revelando o poder do algoritmo em prolongar o tempo de tela dos usuários.

Tempo de uso cresce rapidamente

Entre os participantes classificados como “leves”, o tempo médio diário subiu 40 % em apenas uma semana, passando de pouco mais de 30 para 45 minutos. Já os usuários mais intensos reduziram ligeiramente o período conectado, de 4,5 para 4,1 horas por dia.

Com o passar dos meses, o grupo ocasional dobrou o tempo no aplicativo, chegando a mais de 70 minutos diários. Os participantes que já consumiam mais conteúdo mantiveram a média superior a quatro horas.

Relatos de dependência

Jon Freilich, 51 anos, gerente de operações na Califórnia, descreveu o uso da rede como uma dependência: “Nunca fumei nem usei drogas, mas sinto que sou viciado em TikTok”. A usuária Samantha Margeson, 43, disse ficar surpresa ao perceber ter passado meia hora ininterrupta no app. Já Traci Davis, 56, afirmou sentir que “treina o algoritmo” a cada deslize de dedo. O estudante Casey Lumley, 20, relatou dificuldade em formar opiniões próprias após longos períodos de navegação.

Por que é difícil parar?

De acordo com documentos internos da empresa apresentados em um processo judicial nos Estados Unidos, o design do TikTok é voltado para gerar recompensas imediatas. Para o pesquisador Thomas Essmeyer, da Universidade de Bremen, o gesto de deslizar oferece uma falsa sensação de controle, reforçando o ciclo de uso.

A professora Meredith David, da Baylor University, alerta que os vídeos curtos e personalizados fazem o usuário perder a noção do tempo e podem reduzir o autocontrole, além de incentivar o phubbing — quando alguém ignora pessoas ao redor para olhar o celular.

O psiquiatra Marc Potenza, da Universidade Yale, explica que o aplicativo ativa o sistema de recompensa cerebral de forma semelhante a estímulos prazerosos como comida ou dinheiro, o que dificulta interromper a sessão.

Dicas para reduzir o uso

Especialistas recomendam: verificar o tempo de tela, desativar notificações, instalar bloqueadores de aplicativos, acessar a plataforma apenas pelo computador e priorizar interações ativas (comentar ou conversar) em vez de rolar indefinidamente. “Não fique em uma plataforma só porque todos estão lá, mas porque você tem um objetivo específico”, aconselha Essmeyer.

O próprio TikTok afirma oferecer ferramentas de controle, como filtros, redefinição do feed e limites de tempo, mas não se manifestou sobre as conclusões do estudo do Washington Post.

Com informações de Olhar Digital