Sydney, 22 de setembro de 2025 – Uma investigação da associação de consumidores australiana CHOICE revelou que 16 dos 20 protetores solares mais vendidos no país não entregam o fator de proteção solar (FPS) informado no rótulo. O resultado acendeu um alerta sobre a eficácia desses produtos e levou o órgão regulador local, a Therapeutic Goods Administration (TGA), a anunciar novas apurações.
Como o teste foi conduzido
A CHOICE enviou as amostras a um laboratório independente, que recrutou dez voluntários. Cada participante aplicou as 20 fórmulas em áreas diferentes do corpo antes de ser exposto a um simulador de raios solares. O grau de vermelhidão da pele serviu de base para comparar o FPS real com o declarado nas embalagens.
Apenas quatro produtos atingiram ou superaram o valor informado. Nos demais, a proteção efetiva ficou perto de FPS 20; o caso mais grave foi o Lean Screen Mineral Matificante de Zinco, da Ultra Violette, que tinha FPS real 4 diante do rótulo 50+.
Principais resultados
Entre as discrepâncias identificadas:
- Ultra Violette Lean Screen FPS 50+ – FPS real 4
- Neutrogena Sheer Zinc Toque Seco FPS 50 – FPS real 24
- Cancer Council Ultra FPS 50+ – FPS real 24
- Nivea Sun Protege e Hidrata Lock FPS 50+ – FPS real 40
- La Roche-Posay Anthelios Pele Molhada FPS 50 – FPS real 72 (maior acerto)
Reação das empresas e da reguladora
A maior parte dos fabricantes contestou os números, mas Aldi, Nivea, Woolworths e Neutrogena apresentaram laudos próprios. Meses depois, a Ultra Violette retirou o lote avaliado, admitiu a falha e ofereceu reembolso e voucher aos clientes.
Após o relatório, a TGA informou que irá revisar as exigências de teste de FPS e poderá adotar sanções regulatórias conforme necessário.
Laboratório norte-americano sob suspeita
Reportagem da ABC News descobriu que oito dos 16 produtos reprovados haviam sido certificados pelo laboratório Princeton Consumer Research (PCR), dos Estados Unidos. Comparações mostraram diferenças significativas entre os laudos do PCR e os resultados da CHOICE – caso do Cancer Council Clear Zinc Kids, com FPS 73 no certificado e 33 na verificação independente.
Imagem: Oksana Mizina
Situação no Brasil
No Brasil, protetores solares são classificados como cosméticos e fiscalizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para obter registro, as empresas devem comprovar FPS mínimo 6, proteção UVA equivalente a um terço do FPS e utilizar filtros aprovados pela RDC 600/2022.
A Anvisa afirma não haver indícios de irregularidades semelhantes no país, mas lembra que pode instaurar análises laboratoriais pontuais, apreender lotes, determinar recolhimentos ou suspender vendas caso identifique risco sanitário.
Direitos do consumidor brasileiro
Caso um produto não cumpra o FPS prometido, o Código de Defesa do Consumidor garante ressarcimento, troca ou abatimento proporcional do preço (artigos 12 e 18). Se houver dano à saúde, a indenização pode incluir reparação por danos materiais e morais, e o fabricante precisa demonstrar a conformidade do protetor.
Enquanto a investigação avança na Austrália, especialistas recomendam manter o uso de filtro solar — mesmo com FPS 20 a 30 — e reaplicar o produto regularmente, já que, segundo estudos clínicos, essa prática reduz de modo significativo o risco de câncer de pele.
Com informações de Olhar Digital