Receber um Prêmio Nobel costuma marcar o ponto mais alto da trajetória de um cientista. Porém, parte desses agraciados passa a defender teorias desacreditadas após o reconhecimento, fenômeno conhecido informalmente como “Doença do Nobel”.
Casos que chamam atenção
Exemplos de laureados que abraçaram crenças controversas aparecem em levantamentos como o citado no livro Critical Thinking in Psychology:
- Pierre Curie, vencedor do Nobel de Física em 1903, acreditava que estudar o paranormal ajudaria a explicar o magnetismo.
- Joseph Thomson, Nobel de Física em 1906 e descobridor do elétron, integrou a Society for Psychical Research durante 34 anos.
- Charles Richet, Nobel de Medicina em 1913, cunhou o termo “ectoplasma” ao defender que médiuns expulsariam substâncias misteriosas em sessões espíritas — posteriormente explicadas como truques com tecidos e objetos.
Outros casos tiveram repercussões negativas. Richard Smalley, Nobel de Química em 1996, questionou a teoria da evolução. Já Kary Mullis, Nobel de Química em 1993, duvidou da ligação entre HIV e AIDS, minimizou a mudança climática, declarou acreditar em astrologia e relatou ter visto um “guaxinim verde” conduzindo uma motocicleta que se transformou num “golfinho cantor”.
Pressão externa e comportamento
Para o biólogo Paul Nurse, também laureado com o Nobel, a fama repentina “transforma vencedores em especialistas de tudo”, como escreveu no The Independent. Segundo ele, convites para opinar sobre temas diversos podem incentivar declarações fora do campo de conhecimento original.
Pesquisadores que analisaram o fenômeno apontam fatores cognitivos, como ilusão de onisciência, narcisismo e confiança excessiva, capazes de afetar até mentes brilhantes. Eles recordam que até Isaac Newton dedicou tempo à alquimia e a crenças místicas.
Imagem: wildpixel
Fenômeno não é regra
Embora o número de ocorrências seja expressivo, especialistas ressaltam que não há evidências suficientes para concluir que ganhadores do Nobel sejam mais suscetíveis a pseudociências do que outros cientistas. A “Doença do Nobel” não configura condição real, mas serve de alerta sobre os riscos da autoridade científica ser usada fora de contexto.
Com informações de Olhar Digital
