Uma solicitação da startup norte-americana Reflect Orbital para lançar satélites dotados de espelhos gigantes foi aceita pela Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos, acendendo o sinal de alerta entre astrônomos e especialistas em aviação.
Primeiro voo experimental em 2026
A companhia pretende colocar em órbita, já em 2026, o EARENDIL-1, satélite experimental projetado para redirecionar luz solar do lado iluminado da Terra para regiões mergulhadas na escuridão. O objetivo comercial, descrito pela empresa como “vender luz solar”, inclui a implantação de até 4 000 satélites de baixa órbita (LEO) até 2030.
Cada unidade levará um espelho dobrável de 18 metros de largura, capaz de iluminar áreas de até 5 km de diâmetro com brilho estimado em quatro vezes o da Lua cheia. Versões futuras podem chegar a 54 metros, aumentando intensidade e alcance da iluminação.
Críticas da comunidade científica
Robert Massey, diretor executivo adjunto da Royal Astronomical Society, classificou o plano como “catastrófico” para a pesquisa astronômica. Segundo ele, o projeto ampliaria a poluição luminosa e comprometeria observações de telescópios em todo o mundo.
A astrônoma Samantha Lawler, da Universidade de Regina (Canadá), avaliou a iniciativa como “ideia terrível” e alertou que milhares de refletores podem tornar a observação de estrelas “quase impossível”. Ela também citou riscos para a aviação, caso pilotos sejam ofuscados por reflexos inesperados durante manobras noturnas.
Viabilidade técnica contestada
O satélite piloto deve operar em órbita síncrona ao Sol, acompanhando a linha que separa dia e noite. Apesar de a física da reflexão ser conhecida, a pesquisadora de ética espacial Fionagh Thomson, da Universidade de Durham, considera “altamente improvável” que o sistema funcione como prometido, devido à complexidade operacional e à saturação do espaço em LEO.
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Thomson lembra que tentativas semelhantes fracassaram: em 1993 e 1999, o programa russo Znamya lançou espelhos orbitais que falharam e se desintegraram na reentrada. Ela acrescenta que a luz refletida na órbita seria milhares de vezes mais fraca que a luz solar direta, tornando a geração de energia em parques solares economicamente inviável.
Para Massey, a principal preocupação é o precedente regulatório. “Uma pequena empresa, com a aprovação de um único órgão norte-americano, pode mudar o céu noturno para todo o planeta”, resumiu.
Com informações de Pplware
