Um grupo de astrônomos da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, publicou neste mês no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society uma análise que sugere: a expansão do Universo pode ter deixado de acelerar e entrado numa fase de desaceleração. A conclusão contraria o modelo cosmológico atualmente aceito, segundo o qual a energia escura mantém a expansão em ritmo crescente desde o fim dos anos 1990.
A equipe, liderada pelo professor Young-Wook Lee, reexaminou o brilho de centenas de supernovas do tipo Ia, tradicionalmente usadas como “velas-padrão” para medir distâncias cósmicas. Os pesquisadores aplicaram uma correção relacionada à idade das estrelas que geram essas explosões: em galáxias mais jovens, as supernovas parecem levemente menos luminosas; em sistemas mais antigos, um pouco mais brilhantes. Esse ajuste alterou a calibração convencional, levando a resultados que não se encaixam no cenário de energia escura constante descrito pelo modelo ΛCDM.
Ao combinar as supernovas corrigidas com dados de oscilações acústicas de bárions (BAO) — os “ecos” da expansão primordial detectados pelo Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI) — e com medições da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, o grupo observou melhor concordância com modelos em que a energia escura enfraquece ao longo do tempo. “Nosso estudo indica que o Universo já entrou numa fase de expansão desacelerada e que a energia escura evolui mais rápido do que se supunha”, declarou Lee em comunicado.
Análises preliminares do próprio DESI, sem a correção de idade, apontavam para uma desaceleração apenas em um futuro distante. A equipe de Yonsei, porém, sustenta que o fenômeno já estaria em curso. Para reforçar o achado, os cientistas executaram um teste livre de evolução, usando somente supernovas de galáxias jovens ao longo de toda a faixa de distâncias, e relataram resultados compatíveis com a hipótese de freio na expansão.
O pesquisador Chul Chung lembra que a próxima geração de levantamentos deve oferecer verificações independentes. “Com o Observatório Vera C. Rubin prestes a descobrir mais de 20 mil galáxias hospedeiras de supernovas nos próximos cinco anos, teremos medições de idade mais precisas e um teste muito mais robusto da cosmologia das supernovas”, afirmou.
Imagem: Anshuman Rath Shutterstock
Se confirmada, a desaceleração presente exigirá revisões no entendimento da energia escura e poderá oferecer um novo caminho para resolver a chamada tensão de Hubble, o desacordo entre diferentes métodos de determinar a taxa de expansão do cosmos.
Com informações de Olhar Digital
