Esferas de vidro cósmico indicam impacto de asteroide na Austrália há 11 milhões de anos

Pesquisadores das universidades Curtin (Austrália) e Aix-Marseille (França) identificaram um novo campo de tektites — vidros formados por impactos extraterrestres — no centro-sul da Austrália. As pequenas esferas, denominadas ananguites, datam de 10,76 milhões de anos e confirmam um choque de asteroide nunca antes registrado.

Descoberta revisita amostras de 1969

A investigação começou com a reanálise de oito fragmentos coletados por cientistas da NASA em 1969, que apresentavam composição química fora do padrão conhecido. Utilizando milhares de amostras armazenadas no Museu da Austrália do Sul, a equipe localizou outros seis exemplares com a mesma assinatura geoquímica: menor teor de sílica e concentrações mais altas de ferro, cálcio e magnésio.

Sexto campo de tektites no mundo

Até então, a ciência registrava cinco campos de tektites: Europa, América do Norte, Costa do Marfim, América Central e região australásica. A identificação das ananguites estabelece o sexto campo global e o primeiro completamente australiano, segundo artigo publicado na edição de novembro da revista Earth and Planetary Science Letters.

Cratera ainda desconhecida

Os dados isotópicos sugerem que o impacto ocorreu em uma zona de arco vulcânico do Pacífico, possivelmente em Luzon (Filipinas), Sulawesi (Indonésia) ou Papua-Nova Guiné. A colisão teria espalhado material fundido por milhares de quilômetros, cobrindo cerca de 900 km no interior australiano. A cratera pode ter sido erodida ou confundida com estruturas vulcânicas ao longo dos milênios.

Importância para a geologia

De acordo com o geocronólogo Fred Jourdan, da Curtin University, cada tektite funciona como uma “cápsula do tempo microscópica”, ajudando a refinar estimativas sobre frequência e intensidade de grandes impactos na história recente da Terra. A inclusão das ananguites no registro geológico reforça a possibilidade de que colisões de grande porte sejam mais comuns do que se supunha.

Os autores destacam que compreender eventos passados é fundamental para avaliar riscos futuros e desenvolver estratégias de defesa planetária. Novas buscas geológicas e análises de satélite estão previstas para tentar localizar a cratera responsável pelas ananguites.

Com informações de Olhar Digital